
Uma reportagem publicada neste domingo (5) pela Folha de S.Paulo mostra que a loteria municipal de Bodó (RN) credenciou empresas de apostas esportivas registradas em endereços falsos. O caso faz parte de um levantamento que revela a proliferação de bets associadas a loterias criadas por pequenos municípios em todo o país.
De acordo com a investigação, a Loteria de Bodó, conhecida como Lotero, autorizou o funcionamento de ao menos sete empresas que informaram endereços inexistentes — quatro em Bodó e três em Toritama (PE). Entre os sócios dessas empresas está Camilo Roma de Brito, filho do ex-prefeito Marcelo Porto Filho e sócio do atual prefeito Marcelino Neto.
O jornal verificou que o endereço mais citado nas empresas é a casa nº 1 da rua Central, em Bodó, local onde, segundo os Correios, não há registro desse logradouro. Mesmo assim, pelo menos 30 empresas de exploração de jogos de azar já foram registradas com esse endereço. A reportagem aponta ainda que Camilo Brito também é proprietário de empresas credenciadas pela loteria de Toritama, em Pernambuco, onde o cenário se repete: há registros em endereços inexistentes.
Em nota à Folha, Brito afirmou que suas empresas estão inativas desde dezembro de 2023 e que aguarda credenciamento oficial. A Prefeitura de Bodó não respondeu aos questionamentos do jornal.
A Folha de S.Paulo destaca que o fenômeno das loterias municipais se espalhou pelo Brasil, com pelo menos 18 cidades criando estruturas próprias para credenciar casas de apostas. O modelo permite arrecadação local com baixa taxa de outorga — entre R$ 5 mil e R$ 30 mil —, o que tem atraído empresas do setor, muitas delas registradas em endereços sem correspondência física.
O Ministério da Fazenda e a Anatel afirmaram ao jornal que vêm monitorando e bloqueando sites de apostas irregulares, tendo derrubado mais de 8 mil endereços. Especialistas ouvidos pela reportagem alertam que a brecha jurídica facilita irregularidades e pode favorecer práticas de lavagem de dinheiro.
A Prefeitura de Bodó declarou à Folha de S.Paulo que a loteria municipal atua dentro da legalidade e que as empresas credenciadas passam por fiscalização.